"Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."





Caio Fernando Abreu






quinta-feira, 26 de maio de 2011

To: Father Clown

Mais uma vez estou aqui, escrevendo coisas que você jamais lerá. Sim, eu sei que sou apenas uma folha do seu passado enterrado e completamente esquecido. Também sei que para mim você não passa de um ser desprezível, odioso e ao qual gostaria de ver um dia precisar de mim da mesma forma que precisei de você e não estava lá. Mas é impossível não ficar pensando o quão grande é sua frieza, sim também sou fria. Mas tudo depende do que foi dado e recebido. Se não recebi nada de você, é muito óbvio que nada posso dar. Mas pensando melhor você me deu algo: este vazio imenso, mas um vazio que não é composto pelo que antes se possuia e depois se foi, mas sim um imenso vazio abarrotado de ausências, das suas irresponsabilidades. E mesmo assim, o mais absurdo é o fato de sequer reconhecer, sequer tentar consertar. Por tudo isso você se torna ainda mais desprezível, não pelo erro cometido, mas pela repugnante falta de hombridade em reconhecer os próprios erros, e embora não se possa voltar no tempo (NUNCA!) ao menos tentar reparar de alguma forma. Mas até pra isso és covarde.
E justamente por ser desprezível e odioso, e por todo este imenso ódio que sinto por sua pessoa, preciso escrever pra ao menos tentar controlar todo este imenso rancor claustrofobiante que cravaste em mim. Eu não pedi por isso, não pedi pra nascer. Será que algum dia nem que seja na hora de sua tão desejada partida, por um milésimo de segundos pensará nisso? bem, também não fará muita diferença. A vida terá passado, suas chances também. Nunca lembrarei de você como alguém que estava comigo quando precisei, nunca lembrarei de seu ombro amigo, nunca pensarei naquele dia que vivemos e que me ensinou a andar de bicicleta..por que estas lembranças simplesmente não existem. Mas a sua existência farta, sem preocupações e aparentemente "família feliz" me incomoda, me dá ansia.
Apesar de você ser um nada, gostaria de um dia poder fazer você ver o que perdeu. É, porque no fim das contas foi você que perdeu de não ter convivido comigo. Sua pequenez é algo tão absurdo que às  vezes sinto nojo de saber que parte de seu DNA circula em meu sangue.
Ainda bem que existe a evolução. Não gostaria de ser esta imensa porção de nada que você é, manipulável, regulado por uma mulherzinha medíocre, sem vontade própria, um fraco.
Um fraco.

Um comentário:

  1. eu acho pai super desnecessário na criação de alguém. as melhores pessoas que conheço ou o pai morreu/não tem bom relacionamento/abandonou elas antes de nascer. eu tive um pai a vida toda desejando não ter, porque é melhor não ter do que ter um ruim...

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