"Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."





Caio Fernando Abreu






sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"Uma mulher de cabelos vermelhos, sentada em um balanço, vai para cima e para baixo sem cessar. Olhando fixamente para frente, sorri o tempo todo com a boca entreaberta. Veste uma roupa cinza cheirando a naftalina e suas mãos sangram segurando as cordas do balanço. Não parece ser nova nem velha. Apesar das rugas, o tempo no seu rosto não tem data. Quanto mais vai para cima e para baixo, mais a cor dos cabelos se transforma. O vento toca no vermelho e solta faíscas feito brasa assoprada. A pele muito brnaca contrasta com o sangue nas mãos. Não sente dor, não geme, e não parece triste e nem alegre, apenas balança intensamente, acompanhada de um sorriso misterioso. Dizem que está lá há muitos anos. Chovendo, trovejando, ou sob sol, eis a mulher em seu assento que não pára de descer ou subir. Preso entre árvores, o balanço não transmite o lirismo dos quintais da infância. O cheiro de carambola não existe. O cheiro é outro, aliás são outros. O quintal transmite a sensação de não ter chão. Ela voa, segurando as cordas soltando faíscas. Algumas pessoas param para olhá-la, outros riem, algumas irritadas tentam falar alguma coisa, pedem para parar de voar, de exibir as cordas molhadas de sangue, mas ela não escuta e o movimento persiste. Chegando mais perto do brinquedo misterioso, o sorriso da mulher que vai pra lá e pra cá torna-se claro. Não é uma bruxa e nem profeta, é laica e irônica. O sorriso de boca entreaberta revela uma ironia sagrada que incomoda e enfeitiça. Entrnado em seu ritual profano, os olhares mudam de intensidade. A mulher de cabelos vermelhos faz com que os espectadores mais atentos se sintam com os pés presos ao chão. A sensação deste momento é um peso na sola do pés tragados por raízes lá de baixo, imobilizando os que entram em seu sorriso e se encantam pelas brasas de seus cabelos..Dizem também que ela fala sem falar, que algumas vozes são emitidas de seus cabelos quando alguém se permite viver um hipnótico encontro com seu balanço. Quando o vento sopra mais forte, o cheiro de naftalina some de suas roupas e escutamos barulhos de ondas com cheiro de mar. Em seu sorriso que não é alegre e nem triste, ela ironiza a profundidade e o oculto do humano. Na superfície de seu corpo, diferentes tempos e intensidades desassossegam os que tentam lhe dar um nome ou concluir uma história. Na superfície dos cabelos, da pele branca, da mão que sangra segurando as cordas, da boca entreaberta que emite vozes que não são só suas, ela convida  quem observa a multiplicar o olhar.
O inevitável não existe para está mulher."




Luis Antonio Baptista

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

As luzes e as trevas, o aparente e o secreto: Eis toda a arte. Aqueles que a possuem assemelham-se ao céu e à terra, cujos movimentos nunca são aleatórios. Assemelham-se aos caudais e aos mares inexauríveis. Mesmo mergulhados nas trevas da morte, podem reviver. Como o sol e a lua, eles têm um tempo para aparecer, e um tempo para desaparecer. Como as quatro estações, revestem-se de mil nuanças. Só há cinco notas musicais, mas quem jamais ouviu todas as melodias que podem resultar de sua combinação?? Só há cinco cores primárias, mas quem jamais viu o espetáculo de todas as cores matizadas?? Só há cinco paladares, mas deles podem resultar infinitos sabores. Quem jamais experimentou todos??



Sun Tzu

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Labirinto estranho, que lugar é esse?

Escuto vozes sobre meu ombro,

Nada faz sentindo.

Eu me pergunto, por que competimos?

Quando todos os dias corremos em círculos,

Que maneira mais estranha de cair.

Tentei abrir meus olhos,

Estou torcendo por uma chance de fazer o certo
 
Existe o certo?..
 
Se nada é verdade,

O que mais posso fazer?

Eu ainda pinto flores pra você
Eu ainda pinto flores pra você
Eu ainda pinto flores pra você

domingo, 22 de agosto de 2010

Conectador das almas

"A ti _ _ _ _ _ _ _ _ _, darei uma tarefa muito difícil. Terás a habilidade de conhecer a mente dos homens, mas não te darei a permissão de falar sobre o que aprenderes. Muitas vezes te sentirás ferido por aquilo que vês, e em tua dor te voltarás contra Mim, esquecendo que não sou Eu, mas a perversão de Minha Idéia, o que te faz sofrer. Verás tanto e tanto do homem enquanto animal, e lutarás tanto com os instintos em ti mesmo, que perderás o teu caminho; mas quando finalmente voltares, terei para ti o Dom supremo da Finalidade. E ele retornou ao seu lugar. "

Martin Schulman - 1977

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Não escrevo com a intenção de que através disso eu mude algo. Escrevo como necessidade e eu realmente preciso fazê-lo. Em meio a liberdade falseada que possuimos, expressando-me posso ser livre. E é por isso que o faço. A escrita é a extensão de mim mesma, o que não significa que corresponda ao meu eu por completo. Tão pouco escrevo para que alguém leia e tire conclusões sobre a forma que escrevo ou o que quis representar escrevendo. Pelo menos, essa não é minha intenção. Se escrevo é para combater meus fantasmas interiores e dizimar um pouco das dores que carrego, e me reservo a esse direito. Também não espero que alguém queira ler esses murmúrios, esboços mesquinhos do que sinto. Simplesmente não espero nada de ninguém e muito menos do que escrevo.
De você caro (a) leitor (a) que por ventura lê o que escrevo, nada peço. Finalizo apenas com dois trechos de Clarice Lispector que descrevem perfeitamente o que sinto agora:
"E se me achar esquisita,
respeite também.
até eu fui obrigada a me respeitar".
 "Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando"

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

I care

eu não devia me importar, mas eu me importo.
e eu não saberia descrever, mensurar e externar de quantas e de tais variadas maneiras sou surpreendida me importando com você...nos lugares onde passo, em uma música, em um gesto que te lembra.
Isso não pode ser normal. Já fiz de tudo pra não pensar mais, pra não lembrar o que poderia ter sido e  não foi..pra não me culpar por não ter..agora não tem jeito!
Isso deve ser uma doença..nunca quis não me importar com alguém e não conseguir isso...e o pior fingir que não me importo...jogando um jogo completamente sem nexo comigo mesma.
É o único elo que falta ser cortado..o único nervo que deve ser extirpado pra que eu não sinta mais..pra que eu não erre mais com ninguém.
E tenho enormes motivos pra extirpá-lo..o maior deles é de que o que eu queria não posso ter e isso acima de tudo me é proibido agora..mais que tudo!

domingo, 8 de agosto de 2010

Death

Amanhã é o dia D
D de death
dia de ouvir os macaquinhos lobotomizados
Ouvir não, deixar que entre e saia dos timpanos...
todos os dias.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


Certa vez indagaram a um camponês, qual seria o mais triste dentre os animais.
O velho camponês respondeu logo:
- O corvo é o animal mais triste. Ele é a própria imagem da tristeza. E explicou por quê.
- Quando os ovos se abrem e os filhotes nascem, ele, ao invés de se alegrar, fica inconsolável e vai embora. Mas parte para uma árvore próxima do ninho e ali continua se lamentando. Só quando vê surgirem as primeiras penas nos filhotes é que ele volta. Em breve, estará sozinho. É posssível ser mais triste?

E da mesma forma do corvo eu ajo..sempre.
É possível ser mais triste?