"Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."





Caio Fernando Abreu






sábado, 28 de maio de 2011

Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.


Clarice Lispector

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"Há algo em seus olhos

Não abaixe sua cabeça na tristeza

E por favor não chore

Eu sei como você se sente por dentro

Eu estive lá antes

Algumas coisas estão mudando dentro de você

E você não sabe

Não chore esta noite ...

...  um paraíso acima de você"..


Don't cry - Guns N' Roses

To: Father Clown

Mais uma vez estou aqui, escrevendo coisas que você jamais lerá. Sim, eu sei que sou apenas uma folha do seu passado enterrado e completamente esquecido. Também sei que para mim você não passa de um ser desprezível, odioso e ao qual gostaria de ver um dia precisar de mim da mesma forma que precisei de você e não estava lá. Mas é impossível não ficar pensando o quão grande é sua frieza, sim também sou fria. Mas tudo depende do que foi dado e recebido. Se não recebi nada de você, é muito óbvio que nada posso dar. Mas pensando melhor você me deu algo: este vazio imenso, mas um vazio que não é composto pelo que antes se possuia e depois se foi, mas sim um imenso vazio abarrotado de ausências, das suas irresponsabilidades. E mesmo assim, o mais absurdo é o fato de sequer reconhecer, sequer tentar consertar. Por tudo isso você se torna ainda mais desprezível, não pelo erro cometido, mas pela repugnante falta de hombridade em reconhecer os próprios erros, e embora não se possa voltar no tempo (NUNCA!) ao menos tentar reparar de alguma forma. Mas até pra isso és covarde.
E justamente por ser desprezível e odioso, e por todo este imenso ódio que sinto por sua pessoa, preciso escrever pra ao menos tentar controlar todo este imenso rancor claustrofobiante que cravaste em mim. Eu não pedi por isso, não pedi pra nascer. Será que algum dia nem que seja na hora de sua tão desejada partida, por um milésimo de segundos pensará nisso? bem, também não fará muita diferença. A vida terá passado, suas chances também. Nunca lembrarei de você como alguém que estava comigo quando precisei, nunca lembrarei de seu ombro amigo, nunca pensarei naquele dia que vivemos e que me ensinou a andar de bicicleta..por que estas lembranças simplesmente não existem. Mas a sua existência farta, sem preocupações e aparentemente "família feliz" me incomoda, me dá ansia.
Apesar de você ser um nada, gostaria de um dia poder fazer você ver o que perdeu. É, porque no fim das contas foi você que perdeu de não ter convivido comigo. Sua pequenez é algo tão absurdo que às  vezes sinto nojo de saber que parte de seu DNA circula em meu sangue.
Ainda bem que existe a evolução. Não gostaria de ser esta imensa porção de nada que você é, manipulável, regulado por uma mulherzinha medíocre, sem vontade própria, um fraco.
Um fraco.
"Composta por urgências: minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos."


Clarice Lispector

domingo, 22 de maio de 2011

Fluxo constante, pensamentos chegam como borboletas
Ele (a) não sabe, então ele (a) os expulsa
Algum dia ainda, ele (a) começará sua vida novamente
 Mãos sussurrantes, o (a) conduzem gentilmente para longe...


Even Flow - Pearl Jam
"Eu quero criar um caos em você, porque do caos é que nascem estrelas"

Nietzsche

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Há tanto, tanto o que dizer e escrever. Mas as palavras são pequenas demais pra dizer o que quero, o que sinto e como sinto. Se pudesse dizer tudo, sem ter que dizer  nada...uma folha em branco e só. As vezes, a ausência de fala ou de cor é justamente por ver que falar não vai adiantar de nada, pois parece inútil falar algo para qualquer pessoa que fuja do imenso pequeno mundo delas (sim, porque se o seu mundo é diferente ele é menos interessante aos outros). E assim vamos criando bolhas pros outros e pra nós mesmos. E a cada dia tenho a certeza do quanto a raça humana é desprezível, e eu também.
Na verdade talvez seja isso mesmo. Não faço questão das pessoas. A real vontade é que elas se afastem. E só.

domingo, 15 de maio de 2011

...Like a wheel, gonna spin it
Nobody's gonna mess me 'round
I'm on the highway to hell
Highway to hell
Don't stop me..

Highway to hell - AC/DC

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Em meu olhos

Indispostos
Disfarçados
Como ninguém sabe
Escondem a face
A mentira da cobra
No Sol
Da minha desgraça
Calor fervente
Estancamento de verão
Embaixo da escuridão
O céu parece morto
Chame meu nome
Através do grito
E eu te escutarei
Grite novamente

Buraco negro do Sol
Você não vem
levar embora a chuva?
Buraco negro do Sol
Você não vem?
Você não vem?
Você não vem?

Gaguejando
Frio e úmido
Roube o vento aquecido
Amigo cansado
Os tempos se foram
Para os homens honestos
E às vezes são tão longos
Para as cobras
Em meus sapatos
Sonâmbulo
E a minha juventude
Eu rezo para manter
O céu mandando
O inferno pra longe
Ninguém canta
Como você
Nunca Mais

Você não vem?

Pendure a minha cabeça
Afogue o meu medo
Até que todos simplesmente
Desapareçam


Você não vem?

Black hole sun - Soundgarden

domingo, 8 de maio de 2011

O caos é anterior a todos os princípios de ordem e entropia, não é nem um deus nem
uma larva, seu desejos primais englobam e definem toda coreografia possível, todos éteres
e flogísticos sem sentido algum: suas máscaras, como nuvens, são cristalizações da sua
própria ausência de rosto.
Tudo na natureza, inclusive a consciência, é perfeitamente real: não há absolutamente
nada com o que se preocupar. As correntes da Lei não foram apenas quebradas, elas
nunca existiram. Demônios nunca vigiaram as estrales, o Império nunca começou, Eros
nunca deixou a barba crescer.
Não. Ouça, foi isso que aconteceu: eles mentiram, venderam-lhe idéias de bem e mal,
infundiram-lhe a desconfiança de seu próprio corpo e a vergonha pela sua condição de
profeta do caos, inventaram palavras de nojo para seu amor molecular, hipnotizaram-no
com a falta de atenção, entediaram-no com a civilização e todas as suas emoções mesquinhas.
Não há transformação, revolução, luta, caminho. Você já é o monarca de sua própria
pele – sua liberdade inviolável espera ser completa apenas pelo amor de outros monarcas:
uma política de sonho, urgente como o azul do céu.
Agentes do caos lançam olhares ardentes a qualquer coisa ou pessoa capaz de suportar
ser testemunha de sua condição, sua febre por lux et voluptas. Estou desperto apenas
no que amo e até o limite do terror – todo o resto é apenas mobília coberta, anestesia
diária, merda para cérebros, tédio sub-réptil de regimes totalitários, censura banal e dor desnecessária.
Avatares do caos agem com espiões, sabotadores, criminosos do amor louco, nem generosos nem egoístas, acessíveis como crianças, semelhantes a bárbaros,
perseguidos por obsessões, desempregados, sexualmente perturbados, anjos terríveis, espelhos
para a contemplação, olhos que lembram flores, piratas de todos os signos e sentidos.
Aqui estamos, engatinhando pelas frestas entres as paredes da Igreja, do Estado, da Escola e da Empresa, todos os monolitos paranóicos. Arrancados da tribo pela nostalgia
selvagem, escavamos em busca de mundos perdidos, bombas imaginárias.



CAOS
Hakim Bey

sábado, 7 de maio de 2011

"Mentira, não pedirei nem direi nada a ninguém. É indivisível, aprendi. Talvez consiga dormir. Talvez consiga acordar amanhã finalmente livre de tudo isso. Terei apenas um corpo, poucos pensamentos todos pequenos."


Caio Fernando Abreu