"Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."





Caio Fernando Abreu






quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

E no concretismo das cidades, vamos concretiizando a nós mesmos, nossas idéias tornam-se duras e frias como o material sólido absoluto ao qual solidificamos as construções, o outro e por fim uma a uma cada particula torna-se acinzentada e morta...e nós vamos aos poucos, quase que de forma imperceptível reduzindo-nos ao nada, ao nada do “ter”, ao nada das significações “vendidas” e “compradas”..chegando ao nada do sentir, pois até o nosso sentir torna-se produto das prateleiras de supermercado..
Aos poucos perdemos o brilho do sentir, e cada qual com ideais a planejar somente o futuro....esquecendo-nos da fragilidade vital que nos torna seres vivos passíveis da morte (MEMENTO MORI). Parar um minuto para ouvir, olhar e sentir o outro, sob esse espectro de cores cintilantes da alegria “comprada” e “auto-promovida” torna-se então perda de tempo. E se nada temos a dar ou receber, os objetos nos bastam. Pensar, refletir, indagar-se se tornam características quase criminosas..pois o mercado também nos oferece o pensar..Desejamos tudo aos moldes do concretismo: sentimentos e pessoas. É à isso em suma, que chamamos de liberdade.
Ainda te achas livre?
Te despeças das cascas, dos mantos, da invejável candura e eloquência, saindo do pedestal. Verás que não passamos de seres inacabados, nos enchendo de certezas e rótulos desnecessários que nos sugam o poder do eterno e reciclável pensar. Não, não é fácil! Ninguém é livre por completo! Não somos donos de verdade alguma...Não somos única e exclusivamente uma “persona” estática e imutável. Não nos conhecemos por completo, não nos comandamos completamente. Atua em nós um outro eu, o eu mais íntimo, obscuro e primitivo que preferimos não saber. E esse “ser” obscurecido e falsamente inexistente não conhece o tempo, a morte, o não.
Nada se resume ao que vemos ou pensamos...e somos uma eterna metamorfose ambulante.

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