"Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim."





Caio Fernando Abreu






sexta-feira, 18 de junho de 2010

自畫像

Reside aqui uma serpente, com mil milhas de comprimento

Enrolada sobre si mesma a mil milhas profundas

Os olhos parecem doces, ela tem olhos que parecem doces

Dura e azul, mas macia como os pés dos gatos

Fora da vista ou no elemento da luz

Ela poderia ser um demônio, ela poderia ser um anjo

Com aranhas dentro de uma visão do inferno

Sua espinha é um grito vertical

Lenta como concreto e tão borrada quanto um sonho


Ela gira ao redor e para baixo num eixo central de atrocidade

Abastecida pela inércia, pela profundidade, pelo diâmetro e pela velocidade,

Sua alma- uma ruína retorcida de desespero e dor

E as aranhas em seu interior apenas oram por chuva

Tempo de matança tempo de matança

E de orar pela chuva

A mil milhas de profundidade.

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